segunda-feira, 18 de abril de 2011

O Paradoxo "Código Harry": Trazer moralidade a um ato imoral

Uma importante análise da série é a do Código Harry, nele há normas de conduta que fazem com que Dexter determine seu modo de agir, é uma tentativa de trazer moralidade, regras e princípios a um ato imoral. Segundo o código:
- Só se podem assassinar pessoas que merecem morrer.
- Deve-se ter certeza absoluta.
- Deve-se fazer o trabalho limpo e sem deixar pistas.
- Não se envolver emocionalmente com as pessoas, já que isso pode causar erros.
Harry percebendo o instinto assassino do filho começa a canalizar isso para o que ele considera ser o bem. Mas Dexter ainda é muito novo, nessa ocasião, é questionável o quanto o estímulo de Harry às ações de Dexter podem ter o influenciado. Outro debate é o de como julgar “pessoas que merecem morrer?” Isso cabe a um ser humano?
Vale ressaltar que o ato de matar é imoral, pois interfere na liberdade de outro indivíduo e afeta a sociedade, gera um sentimento de repulsa para a humanidade [Hume] e, se considerar a execução do instinto como escolha, então por desrespeitar o imperativo categórico de Kant, também é considerado imoral.
A seguir uma passagem do livro “Dexter- A mão esquerda de Deus, Jeff Lindsay”
“ – Estou ficando velho, Dexter- Esperou que eu protestasse, mas não falei nada e ele concordou com a cabeça. – Acho que as pessoas vêem as coisas de outro jeito quando envelhecem – concluiu ele. – Não é que fiquem mais complacentes, ou que vejam que as coisas também podem ser cinzentas, em vez de apenas pretas ou brancas. Eu apenas estou vendo as coisas de outro jeito. Melhor.- Olha para mim, o olhar de Harry. Amor firme com os olhos azuis.
- Certo – concordo.
- Se fosse dez anos atrás, eu colocaria você em alguma instituição- diz, e pestanejo. Essa afirmação quase dói, exceto pelo fato de que eu já tinha pensado nisso. - Mas, hoje, acho que sei melhor, conheço você e sei que é um bom garoto.”
Nesse trecho fica clara a condução que Harry dará a Dexter. Ele é um policial frustrado com a justiça e começa a incentivar no filho essa capacidade de consertar os erros dos tribunais.
Enquanto Dexter crescia em uma família cercado por amor e compreensão. Seu irmão, Bryan, que passou pelo mesmo trauma, com a idade próxima, é enviado e cresce em um local para tratamento psicológico, O próprio Bryan define no último episódio da primeira temporada, que quando Harry o viu, só enxergou um menino problemático. Bryan, com o mesmo instinto assassino do irmão e sem um código, mata desenfreadamente pelo puro prazer.
O encontro dos irmãos acontece no final da temporada, e fica explícita a diferença que o Código de Harry fez na vida de Dexter.  Seu irmão questiona o seguimento do código, demonstra como é ser um assassino movido apenas pelos seus instintos, livre de arrependimentos ou motivos. Dexter se sente traído pelas informações que seu pai escondeu e coloca em dúvida a confiabilidade do Código Harry.
Ao longo das outras temporadas, Dexter por vezes se vê quebrando o código para consertar seus erros, incrimina pessoas inocentes, apagando suas pistas. Acaba por criar seu próprio código. E por trás de seu carisma vai escondendo suas imoralidades.

Vídeo produzido pelo grupo


O vídeo produzido pelo grupo tenta apresentar as principais questões éticas e morais apresentadas pelo seriado analisado e seu personagem principal, Dexter. Ele tenta focar na construção do Código Harry, na apresentação da identidade do personagem, na forma com que ele age com suas vítimas e, num momento final, no encontro com seu irmão e o questionamento por ele do Código de Ética – o qual ele se refere como Código Harry – o qual ele segue. 

As diferentes visões: Hume, Kant e o Utilitarismo

Hume, Kant e o utilitarismo apresentam visões e estruturas éticas extremamente diferentes. Sabendo disso, esse post se propõe a analisar a ética do personagem Dexter, como serial killer, sob a visão dessas três diferentes escolas.


Como já foi apresentado, Dexter é um personagem aparentemente normal, que esconde o segredo de ser um serial killer que mata outros assassinos, além de possuir um instinto assassino que surgiu em sua vida após a passagem por um grande trauma quando criança. É importante observar o fato de que o personagem mata outras pessoas por instinto e tenta direcionar esse seu instinto para realizar - a seu ver - um bem para a sociedade.
Visão Utilitarista
Sob a visão utilitarista da ética, que classifica apenas as reações que as ações causam - apenas os fins e não os meios - o personagem estaria realizando uma ação correta e ética, do ponto de vista coletivo, tendo em vista que seus atos aparentemente não corretos - o ato de matar, por exemplo - causam um bem maior como fim - a proteção da sociedade de um assassino. Nesse caso, uma das leis do código de ética que regem os assassinatos do personagem apresenta fundamental importância, a lei de sempre se ter certeza, já que a falta de certeza poderia fazer com que Dexter assassinasse um inocente, não contribuindo para a sociedade e não apresentando um fim bom, o que minaria seu ato anteriormente considerado como correto, transformando-o em um ato errado sob o ponto de vista utilitarista.

Outro ponto que pode ser considerado através da ética utilitarista é a do deleite do próprio personagem. Dexter apresenta um prazer em realizar seus assassinatos, sem nunca sentir culpa quando seu código de ética é satisfeito. Sendo assim, do ponto de vista individual, suas ações também podem ser consideradas éticas, já que lhe causam prazer e não dor, nem a curto e - como não é descoberto - nem em longo prazo.

Visão Humeana

Segundo a ética analisada do ponto de vista apresentado por Hume, são nossos sentimentos e vontades que determinam o que é ou não ético e imoral. Neste caso, a razão seria apenas uma ferramenta para auxiliar a execução de atos que provém dos nossos sentimentos e emoções. Além disso, Hume analisa a motivação para a realização de cada ação, além da ação em si.
Analisando Dexter, essa teoria ética apresentaria um processo lógico bem simples. Se o personagem deseja matar e tem bons sentimentos acerca deste ato, isso classifica sua ação como ética e moral. Vale aqui ressaltar que o personagem só tem bons sentimentos acerca do ato de matar quando ele satisfaz o seu próprio código ético.
Uma contradição que pode ser apresentada na análise sob a ótica humeana é o fato de que o autor introduz o conceito de senso-moral, da aprovação por todos. Nesse caso, as ações de Dexter seriam imorais, já que apesar de apresentar bons sentimentos ao realizar e planejar a ação, ela não causaria bons sentimentos nas outras pessoas, além de elas não serem “aprovadas” pelo senso-moral.

Visão Kantiana

A ética kantiana - ao contrário da humeana - coloca a razão no papel principal da moral. Neste caso, existe uma separação do que se quer realizar e do que se deve realizar. Aqui também são analisadas as motivações para a realização das ações.

Analisando nosso personagem principal sob a ótica kantiana, existem diversas questões a serem debatidas. A principal delas, analisando-se o fato de que Dexter assassina assassinos apenas para suprir sua "necessidade" de matar e não puramente para proteger a sociedade de pessoas ruins, suas ações seriam imorais, já que sua motivação não seria correta e ele realizaria a ação que quer realizar e não a que deve.
Porém aqui, um ponto a ser debatido é o fato de que muitas vezes Dexter apresenta a motivação de seus atos como instinto. Nesse caso, a ética kantiana não analisaria os atos cometidos, já que o instinto e as ações instintivas não podem ser julgados moralmente.

Introdução


Se você não assistiu a primeira temporada e pretende assistir não leia as linhas a seguir.
Dexter apresentou desde criança um instinto assassino ao matar animais por motivos banais. Esse instinto surgiu quando foi encontrado numa poça de sangue, na cena do crime onde ocorreu o assassinato de sua mãe, depois de passados dois dias. Um dos policiais que o encontrou na cena do crime - o policial Harry - o adotou.  Harry, um policial revoltado por alguns assassinos conseguirem sair impune de seus crimes, percebendo o instinto assassino do filho, viu aí a oportunidade de fazer justiça: criou um código para Dexter conseguir conciliar sua vida de serial killer de assassinos, com uma vida social tipicamente americana, tentando parecer carismático.
 Harry morre quando Dexter ainda era um jovem e ele então se vê sozinho para continuar fazendo o que ele mesmo disse que faz de melhor: matar assassinos. Dexter encontra uma forma de se manter próximo de suas futuras “vítimas” e vai trabalhar como perito em sangue no departamento de homicídios da polícia de Miami. Debra, irmã adotiva de Dexter, passa a trabalhar no mesmo local que o irmão e é a pessoa pela qual – segundo ele – estaria mais próximo de ter algum sentimento.
Um dos pontos do código de Harry dizia que Dexter deveria tentar manter uma vida socialmente normal e isso incluía o relacionamento com uma mulher. Ele então conhece Rita, uma mulher, mãe de dois filhos,  traumatizada  pelos constantes estupros e espancamentos a que foi submetida pelo seu ex-marido. Ela parece ser a mulher perfeita para Dexter, já que ele não vê necessidade de manter relações sexuais com alguém, uma vez que isso envolveria sentimentos, o que ele mesmo diz não possuir. Porém, com o tempo esta relação sofreu pequenas mudanças, Rita superou o trauma do ex-marido e Dexter se viu forçado a ter relações com ela. Ela passa a ser a segunda pessoa pela qual ele esboça algum tipo de sentimento.
Alguns assassinatos com características parecidas começam a aparecer na cidade de Miami e um novo serial killer passa a desafiar o trabalho policial. Dexter começa receber alguns tipos de contatos desse assassino e gosta do contato com uma pessoa de vida parecida com a sua. Depois de um tempo o assassino se revela para Dexter e conta que é seu irmão, Bryan, e que na verdade, na cena do crime de sua mãe, Dexter não estava sozinho: seu irmão estava lá também, mas essas lembranças tinham sido apagadas da mente dele depois do trauma. Bryan se mostra um assassino frio, que não segue nenhum código de condutas e questiona o código criado por Harry e seguido por Dexter.